Outros

A NECESSIDADE DE CRIAR UMA CULTURA EPISTEMOLÓGICA

LUIZ FELIPE PONDÉ (Tel Aviv – fevereiro de 2000)

** Desconhecemos a origem deste texto. Se alguém souber e puder nos informar. Somente por essa razão a fonte não está identificada!


Julgo fundamental, se quisermos delinear um espaço científico e acadêmico para a Cultura Religiosa (CR), estabelecer entre nossos pesquisadores uma “cultura epistemológica”. Do que se trata?

Antes de tudo, formalmente, incluir, no programa de CR, cursos densos de epistemologia pura e em um segundo momento, verticalizar o tema dentro do campo das CR. No que se refere ao conteúdo propriamente, seria importante trabalhar em três eixos. Primeiramente, um histórico, trazendo à luz a discussão do “problema do conhecimento” desde a Grécia, passando pela socrática x sofística, ceticismos, metafísica, nominalismo, empirismo sensualista, racionalismo, crises do XVII (Pascal, Leibniz), relativismos em geral, até as discussões atuais, como fenomenologia, pragmatismo, contextualismos kuhnianos, falseabilismo popperiano, cognitivismos, fundacionismo, justificacionismo, materialismo eliminacionista, epistemologia das controvérsias, ceticismo evolucionista, etc; tal percurso iluminaria a espessura do tema enquanto o “drama do conhecimento” que se mantém no tempo, e veríamos que “epistemologia” está longe de acordos evidentes – e que portanto nos abre para o problema do “contrato” em epistemologia – e que este problema não é específico da CR.

Em segundo lugar, um percurso conceitual, desenvolvendo, como diz W. Jay Wood, de Notre Dame (USA), no seu “Epistemology” (Apollos, UK, 98), a questão da existência humana a partir de nossa condição enquanto “agentes cognitivos” – os “contratantes”: o que significa existir dentro deste “drama epistemológico” de tocar ou não a “verdade”? Como ser um “profissional do saber”?

Em terceiro lugar, trazer para dentro das CR este programa, opondo visões “religionistas” às “exterioristas” das chamadas C Sociais (Política, Sociologia, História) – só que agora, após a percepção pelo pesquisador das controvérsias acerca do estatuto epistemológicos destas mesmas ciências -, também percorrer as escolas hermenêuticas/fenomenológicas, as materialistas e funcionalistas, as psicológicas, etc. Evidentemente que um dos desdobramentos primeiros seria a percepção da distância (complementar, muitas vezes) entre CR e teologia: enquanto a segunda é um saber que se constitui a partir de dogmas internos a tradições religiosas específicas e, portanto, parte da “fé” vivida, a primeira toma o objeto “religião” – e seus constituintes – a partir da tradição da teoria do conhecimento e da ciência experimental e humana, colocando-se assim de forma exterior aos sistemas religiosos que são aliás, seus objetos de pesquisa.



2 Respostas to “Outros”

  1. Saúde
    Sou professor de filosofia da rede pública e, naturalmente, enloqueci. Escrevi um policial no qual trato da loucura da pregação. Numa crônica de Pondé soube de um mito rabínico que fala da Misericórdia devastada por Deus após o ato da criação. Um personagem do meu livro, mentecapto por óbvio, fala que Deus será redimido de sua crise de consciência após a reunificação da Misericórdia, que aparece ao longo da trama como um sonho a ser materializado (fenômeno ao qual Borges transcreve sobre um palácio sonhado na antiguidade por um príncipe mongol e que ressurge em sonho ao poeta CoLleridge, talvez um objeto eterno a se materializar – loucura sonhada por Whitehead). Fiz uma farofa tratando do tema e gostaria de enviar ao possesso cronista. Se puderem me dizer como, ficaria muito grato. No mais é isso. Aguardo resposta dentro de meu deserto particular, i.e, um Atacama dentro de um Saara. Grato de antemão.

Deixe uma resposta